quinta-feira, 27 de março de 2008

Lispector, Pessoa e aspirinas

[Clarice acabou de entrar]

Clarice diz:
Tá doendo, sabe, dói aqui dentro. Não sei o quê, mas sei que dói. Você tem uma aspirina?

Fernando diz:
A alma é aquilo que não aparece, minha querida. E disso tudo só fica o que nunca foi: porque a recompensa de não existir é estar sempre presente.

Clarice diz:
Obrigada, eu sabia que você tinha. Se a verdade fosse aquilo que posso entender terminaria sendo apenas uma verdade pequena, do meu tamanho.

Fernando diz:
Sim. Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo e esquecer os caminhos que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia. E, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos.

Clarice diz:
Viver me deixa trêmula. A verdade não faz sentido, a grandeza do mundo me encolhe. : (

Fernando diz:
Há tanta suavidade em nada dizer e tudo se entender. Se eu te pudesse dizer o que nunca te direi, tu terias que entender aquilo que nem eu sei.

Clarice diz:
Então faz de conta que tudo o que tinha não era de faz-de-conta, faz de conta que se descontraíra o peito e a luz dourada a guiava pela floresta de açudes e tranqüilidade. Faz de conta que ela não era lunar, faz de conta que ela não estava chorando...

Fernando diz:
Circunda-te de rosas, ama, bebe e cala. O mais é nada.

[Fernando parece estar offline. As mensagens enviadas serão entregues quando esse contato entrar.]

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