segunda-feira, 31 de março de 2008

Imagin-ação

O ato de imaginar comumente é retratado com o fechar apertado dos olhos, mas, se fosse assim, ninguém imaginaria mais nada enquanto dirigisse e os meus clips ambulantes não existiriam - sim, porque imaginar é existir de outra forma (haveria lei de trânsito e placas na estrada: "Ao dirigir, não imagine", então, minha produção estaria seriamente comprometida com o acúmulo de multas originadas pelo imaginômetro).
As cenas que passam aleatoriamente e se misturam ao fundo musical do carro são de uma espontaneidade impressionante.
O casal que se abraça na parada de ônibus como se fosse a última vez, a frase lida, o cheiro da chuva, o vento no rosto e a nostalgia característica dos domingos: todos atores irretocáveis.
Estágios de pré-paixão; epifanias.
E as convenções/convicções se quebram irreversivelmente pelo caminho.

sábado, 29 de março de 2008

The ant

"Pareceu-lhe que as torturas de uma pessoa tímida jamais tinham sido completamente descritas."

Sim, timidez pode advir de uma situação totalmente fora de contexto, como um mosquito que se interessa por uma formiga.
No chance.

(Formigas admiram mesmo é uma boa cigarra, rsrs. E também está provado que reconhece outra fácil, fácil. )

quinta-feira, 27 de março de 2008

Lispector, Pessoa e aspirinas

[Clarice acabou de entrar]

Clarice diz:
Tá doendo, sabe, dói aqui dentro. Não sei o quê, mas sei que dói. Você tem uma aspirina?

Fernando diz:
A alma é aquilo que não aparece, minha querida. E disso tudo só fica o que nunca foi: porque a recompensa de não existir é estar sempre presente.

Clarice diz:
Obrigada, eu sabia que você tinha. Se a verdade fosse aquilo que posso entender terminaria sendo apenas uma verdade pequena, do meu tamanho.

Fernando diz:
Sim. Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo e esquecer os caminhos que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia. E, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos.

Clarice diz:
Viver me deixa trêmula. A verdade não faz sentido, a grandeza do mundo me encolhe. : (

Fernando diz:
Há tanta suavidade em nada dizer e tudo se entender. Se eu te pudesse dizer o que nunca te direi, tu terias que entender aquilo que nem eu sei.

Clarice diz:
Então faz de conta que tudo o que tinha não era de faz-de-conta, faz de conta que se descontraíra o peito e a luz dourada a guiava pela floresta de açudes e tranqüilidade. Faz de conta que ela não era lunar, faz de conta que ela não estava chorando...

Fernando diz:
Circunda-te de rosas, ama, bebe e cala. O mais é nada.

[Fernando parece estar offline. As mensagens enviadas serão entregues quando esse contato entrar.]

Tomar um chopp

Tenho prestado atenção na leveza desse convite. Acho o máximo.

Já aventurei a frase com um estranho que não sabia que eu não bebo chopp. Saiu até natural (apesar de que nem foi propriamente falado). Até hoje nem sei se notou que o gosto da cevada não me apetece. E, se eu não me engano, ele ficou só na coca-cola. But it doesn´t matter. Importa é a desculpa de boas companhias junto com a alegria que essas tulipas trazem ficando ao redor, só enfeitando e animando o ambiente.

P.S.: Naturalmente, nessa foto, a xícara de chocolate é minha – eu sempre acho que a palavra “x”ícara deveria ter sido grafada com “ch”, não sei por quê. Ah, talvez pra combinar com “ch”ocolate, pode ser isso.

terça-feira, 25 de março de 2008

Swim as a fairy

Nadar é uma forma de voar.

Escrever, de entender.

E não há nenhuma espécie de crise nisso, porque é engraçado como a palavra “entendimento” carrega esse ranço.

Escrever o que se entende organiza algumas idéias avulsas.

É voar por dentro.

segunda-feira, 24 de março de 2008

Do you have a possible plan?

Não existem certezas, só oportunidades.
Dúvidas sempre haverão sobre o caminho a tomar. As perguntas sobre se se fez a escolha certa vão estar ali que nem aquele mosquitinho chato que não te deixa dormir. E quer saber? A vida não dá resposta! O que conta é a vontade de acertar.
Nenhum caminho vem com certificado de garantia e nossa vida não é um roteiro de “Efeito Borboleta”, tornando possível vários “ses”.
A única certeza é a de que se deve assumir os riscos da escolha feita e seguir em frente. Ou voltar atrás, se ainda houver tempo.
O fato é que cada um carrega dentro de si sua própria bombinha-relógio e se serve do que acha mais apropriado das coisas que vê por esse mundo.
Gosto de pensar que tenho o tempo que quiser pra fazer o que me der na telha. Planos A, B, C...Z e de novo A¹, B¹, C²³, ad infinitum! Vivemos de perspectivas, mans... ultimamente parece que os papéis se inverteram e o mundo inteiro é que nutre pesadas perspectivas com relação a nós. Incômodo. Ando extremamente avessa a planos.

“É que só sei ser impossível, não sei mais nada. Que é que eu faço para conseguir ser possível?” (Clarice Lispector, sempre ela)

domingo, 23 de março de 2008

Elemento surpresa

Gosto de ouvir cds que gravei há algum tempo pra me permitir surpreender com músicas que já nem lembrava. Faço isso com aqueles que realmente não imagino o conteúdo, por isso não faço questão de escrever os nomes na capa. Só agora percebo a minha pseudo-displicência, rsrs.
É que sempre gostei das surpresas. Quem não gosta? Talvez por isso adore ouvir rádio (passo por várias emissoras garimpando alguma coisa legal, apesar de não ser fácil) e não goste de ver filmes repetidos – com raríssimas exceções -, porque a emoção vem exatamente da surpresa, do imprevisível. Mas hoje... pelo fato de ser muito desligada com títulos e pela comodidade que eu tinha de virar pro lado e perguntar: "eu já vi esse filme?", acabei revendo um, sem querer. Não lembrava, lendo só pelo nome, que já havia assistido. Acontecia que eu era a que sempre sabia do melhor posto pra abastecer o carro e ele se encarregava de guardar os nomes dos filmes. Eu ri lembrando disso e pela minha patetice em achar que nunca tinha visto esse.
Viajei de novo naquele universo. Aqueles personagens eram uma espécie de cúmplices. Eu já os conhecia, e eles também a mim. Portanto, dessa vez não me emocionei mais com a cena da garotinha. Eu já sabia do poder da fada que deu a capa a seu pai quando tinha 5 anos. Continuei achando a cena linda - “It´s really a good cloak”-, mas a previsibilidade tira o brilho da emoção. Por isso gosto tanto de "Se tudo pode acontecer", do Arnaldo Antunes, porque fala do imprevisível, do inesperado, apesar de ser paradoxal esperar o inesperado. Ah, e voltando aos cds, vi que hoje sou muito mais Arnaldo que Djavan.
O que os coelhos têm a ver com isso? Nada. Estão pendurados num universo paralelo onde não os alcanço, só sei que estão lá. Talvez porque seja páscoa. Talvez porque sejam personagens também.
Agora estou muito atenta aos títulos e à minha listinha de filmes a assistir, mesmo sabendo que não tem muito conserto pra minha "desligadez".
Turning off.
zZzzZzz

sexta-feira, 21 de março de 2008

Blue, but not the girl

Fiz as pazes com o planeta azul!

Inevitável lembrar da última vez que estive nele, quando era seguida por olhos cheios de amor, e aquela tinha sido a mais bonita das declarações antes deles tomarem de vez o lugar das palavras. Porque eles falavam mais e além.

Hoje não lembro mais com tristeza, só a beleza do momento me interessa.

Aprendi que é o que importa guardar. E eu tenho feito uma coleção admirável.

Outros personagens, pessoas com as quais não tive muito tempo de convivência, contato físico quase nulo, mas que me provaram que sutilezas tocam a nossa alma muito mais fundo que qualquer beijo tórrido – okay, eu adoro beijos tórridos, mas Lost in Translation tá aí pra mostrar que envolvimento e beleza são muito mais que essa coisa carnal.

Também aprendi a me divertir em minha companhia. No início foi realmente difícil, tão acostumada a vida inteira a sorrir ao som de outro sorriso, mas descobri que eu sou mesmo ótima, rsrs. E a partir de então, uso tudo pra agradar a mim mesma: os melhores perfumes, os creminhos e todos aqueles cosméticos, roupas e acessórios que, antes esperavam num canto por pessoas e datas especiais.

Descobri que a pessoa sou eu e que a data é hoje.

Não me tornei egoísta (tenho horror a essa palavra), só melhorei porque odeio gente que só sabe reclamar e não conseguiria viver por aí desse jeito, me lamuriando ou esperando que alguém me resgatasse. Então ganhei o mundo e, consequentemente, o mundo me ganhou.

É ótimo ouvir: “Tá chovendo aqui, ou seja, tempo de Dri em Paris.”

Da próxima vez, vou na primavera. Sozinha ou não. :)

O lunático e as estrelas

Era uma vez um lunático que, numa noite, descobriu 7 estrelas.
Ousou batizá-las e estabelecer comunicação. Estreitaram-se.
A vida nessa noite foi muito mais divertida, “alucinática”.
As estrelas tinham, cada uma, características muito, muito peculiares.
O lunático transitou por elas como um rei. Ganhou títulos e honras.
Quando a noite acabou, esqueceu-se de tudo, pois eis que ele cultivava o péssimo hábito de nunca lembrar de seus sonhos. Apenas o brilho invulgar daquelas petecas de seu abajur despertava uma vaga desconfiança de memória.
E enquanto isso, Ella cantava Tom. Baixinho.

quinta-feira, 20 de março de 2008

Singularidades desconexas

"Não deixe a saudade ferrar com você."
(Do personagem Alfredo para Totó na despedida, em Cinema Paradiso.)

Otimismo:
Lado bom do "se"-> suas infinitas possibilidades.
Lado bom do "quando"-> sua espécie de certeza.

O bom de escrever é tornar a emoção consultável e atemporal.
Sim, blogs são máquinas do tempo.
O resto é Mar/te.

zZzzzZz

quarta-feira, 19 de março de 2008

Imagina, ué

Nunca tinha reparado no uso curioso que fazemos dessa palavra. Na verdade é porque deixamos a expressão incompleta. Eis que me perguntaram:

- Imaginar o quê? Acho tão engraçado quando você fala assim.

- Imagina se isso é trabalho ou incômodo, ora; imagina se eu vou te largar no meio da rua.

Imagina se eu notaria essa "incompletude" se ninguém observasse.
O olhar estrangeiro faz despertar.
E a imaginação agradece.

terça-feira, 18 de março de 2008

Das coisas que me oprimem


  • Minha eterna dificuldade em dizer não pra algumas situações bobas;
  • Um monte de e-mail por ler na minha caixa, e as pessoas perguntando: "leste o e-mail que te mandei?" E a minha cara de paisagem.
  • Comprar aquela coleção do seu autor preferido de livros técnicos numa ótima promoção pelo site da editora, ela chegar e você não conseguir abrir uma página de nenhum dos livros, que ficam ali no canto da estante e te olham com um misto de tristeza e reprovação, porque você só teve disposição pra rodar as locadoras da cidade atrás de alguns filmes que quer e vai ver, o que significa, de novo, menos tempo pro resto;
  • Não ter nascido em Paris ou, vá lá, no Rio de Janeiro;
  • Receber novos desafios no trabalho, ficar feliz, mas não ter os recursos que gostaria pra dedicar-se a eles;
  • Ver aquele pacote de goma de bananinha no final;
  • O trânsito caótico de Belém e, como se esse inferno por si só não bastasse, o “menor infrator” (= moleque FDP) que riscou meu carro hoje no sinal só porque não viu nenhum homem dentro;
  • Afe, ainda tô no item anterior tentando sublimar minha raiva...
  • Ok, passou. Então: pessoas chatas bloqueadas* no msn que me perguntam se eu não tenho lido suas msgs offline;
  • Pessoas possessivas (que estão no mesmo grupo das chatas bloqueadas), que me cobram demasiaaada atenção;
  • Quando faço da minha casa um hotel, por achar que não estou interagindo como deveria;
  • Não ter um chip no cérebro com todas as leis, decretos e medidas provisórias;
  • Estar viciada nessa minha fase hedonista-compensatória que não passa mais;
  • Não saber passar batom sem precisar de espelho;
  • O dia ter só 24 horas;
  • Não saber voar;
  • Pesadelos.

* Eu odeio fazer isso, mas toda vez que tento desbloquear, elas me provam que merecem e que eu não devo nutrir nenhum remorso por isso, rsrs :P

Telefreenemas

Já perceberam como é raro de acontecer? Comigo aconteceu hoje. Claro que não falo dos amigos próximos, que fazem parte do nosso atual círculo. Mas é que tem tanta gente que passa por nossas vidas que aprendemos a querer bem - parentes, amigos de tempos que não voltam mais, a secretária gente boa daquele curso intensivo que você fez e que te adicionou no orkut dela - mas que, por tantos caminhos diferentes vão ficando pra trás e quando a gente lembra, pensa que gostaria de saber como estão.
Só que, nesse mundo egoísta e assoberbado, ninguém mais tem tempo pra ligar pura e simplesmente pra saber como está alguma dessas pessoas. Confesso que nem eu. Então de tão raro, achei bonito.
E eu, maldosamente, fiquei esperando até o final do telefonema a famosa frase: “ah, pois é, soube que estás trabalhando em tal lugar...será que...” - então essa é a hora de ouvir o verdadeiro motivo da ligação e, afinal, saber como você estava era só pra não ficar chato, uma espécie de obrigação social, era um pseudo interesse pela sua vida, que você também conta muito an passant. Quem nunca fez isso? O inusitado é justamente não fazê-lo.

Desliguei o telefone com vergonha de mim. Lembrei-me da sensação que tive ao assistir Juno, maldando (existe esse verbo?) a cena dela com o cara que seria o pai adotivo do bebê e que Paulo Polzonoff Jr. descreveu tão bem no blog dele -> link (obrigada, Helder, parece que consegui!). Vale a pena ler. E eu continuo em lua-de-mel com aquela trilha! Não sei bem porque pra mim esse filme tem um quê dos desenhos do Charlie Brown, às vezes acho que é aquela fonte com aqueles meninos correndo, aquele ar de escola americana, não sei bem, mas que tem, tem.

Por falar em filme, acabei de assistir Magnólia:
- O que podemos perdoar?
- Eu não vou abrir mão de você.
Isso é muito pano pra manga. Melhor parar por aqui. O curioso é que antes de ver o filme já tinha gostado de One e Save me. Início e fim, respectivamente. Agora gosto ainda mais. :)

segunda-feira, 17 de março de 2008

O ipsilon

Ontem, depois de ler um texto lindamente escrito, pensei no quanto os ingleses foram sábios em incluir o Y em “bYe”. Brilhantes!

Bom é quando a gente consegue virá-lo de cabeça pra baixo e começar tudo de novo.

domingo, 16 de março de 2008

In(con)venções

Se eu tivesse aquele giz que foi dado à Princesa Moanna, do Labirinto do Fauno, eu desenharia uma porta pra um mundo onde as pessoas não precisassem das palavras pra se comunicar.
Logo eu que gosto tanto delas. Entretanto, seria uma espécie de comunicação wireless, levando-se em conta que a palavra é sempre o fio condutor das idéias.
A comunicação seria exercida por meio de blocos mentais de pensamentos e então, adivinhem?
Ninguém ia ter muita chance de dissimular-se e aquelas situações semi-embaraçosas sobre o que fazer quando encontramos um recém-conhecido seriam amenizadas.
As pessoas se olhariam e ploft, estaria tudo ali! Reconheceriam suas afinidades e não se preocupariam com nenhum tipo de convenção social.
Não, aquela coisa prazerosa de conhecer e explorar o universo alheio não desapareceria, mas seria feita de forma vertical, mais profunda. Deixemos a superfície pros insetos.

E por falar em idéias malucas de maneiras de comunicação:

"Repara, faz esta experiência: encosta o teu ouvido a outro ouvido. Junta, pois, dois órgãos receptores, e depois espera. Verás. Um órgão aparentemente receptor torna-se emissor depois de algum tempo junto a outro órgão receptor. O teu ouvido fala."

Será? Qualquer dia eu tento.

Essa outra eu adoro: "A linguagem surgiu para que a pornografia não ocupasse o mundo por completo."

Tá tudo nas tabelas literárias de Gonçalo Tavares, em "A perna esquerda de Paris". Eu ainda devo falar muito dele, porque afinal são poucos escritores contemporâneos que conseguem deslocar o óbvio de maneira tão subversiva e que me causam tanto fascínio. E além do mais, ainda tem muitos outros livros bacanas dele aqui na minha estante. :)

P.S.: Os blogs não estariam extintos. As postagens seriam feitas de upload dos bloquinhos escolhidos. Blogs de pensamentos: "thlogs".

Sobre luzes e tristezas

Lá estava ela, habitualmente aproveitando a madrugada pra alimentar sua insônia e eis que toca o interfone.

Era ele, foi deixar o dvd do filme preferido dela. Disse que precisava vê-la, que não aguentava de saudades, que era uma necessidade... ela nunca entendeu porque ele faz isso. Que estranha necessidade é essa?! Perguntava-se se era pena, se foi checar se ela tem se alimentado direito, como ele costumava recomendar e ela simplesmente odiava essa piedade de quem acha que tem o controle nas mãos.

Bem... Agradeceu. Mas, olhou-o e não o reconhecia. Não era ele. Era a alma. Alguma coisa nele ela não reconhecia. Abraçaram-se tristes. Olharam-se nos olhos, incompreendidos. Talvez ele também já não a reconhecesse. Era como se fossem dor, ela e ele. Montes de destroços um do outro. Ela olhava e via uma dor, uma dor como a dela. Inevitável sensação de fracasso.

Ela começa a achar que, na verdade, ele gostaria de amá-la como antes, devia ser isso! Acha que ele lamenta muito... sim, lamenta, por isso pede tantas desculpas. Por isso não diz quase nada além disso, só olha. Talvez porque, na época do rompimento, ela tenha perguntado muito quando foi que se perderam um do outro. Ela quase exigia saber, talvez isso diminuísse sua sensação de impotência e quisesse correr pra tentar consertar. Ela e sua mania de querer resolver tudo, de fazer tudo pelas coisas que quer, de ser a pró-ativa "da estrela"! Pra pessoas assim, uma história dessas tem uma repercussão catastrófica. É a velha história de não saber se adaptar a situações que lhe são impostas. E ela quis muito resolver tudo de alguma forma. Como não conseguia, ela, no auge do seu desespero, praticamente exigia uma explicação do momento em que o amor cambaleou, fez pluft e morreu. Tentava descobrir o quão longe estavam um do outro a cada data especial que passavam distantes, mesmo estando tão perto fisicamente. E se existia algum ponto lá na frente em que iriam se ver de novo inteiros. Ou se apenas se olhariam nos olhos, solidários e se abraçariam, cúmplices de suas ineficiências. Então se reconheceriam: ela e ele, montes de lindos souvenirs um do outro.

E tudo à tona de novo. Todos os "porquês" mal respondidos, todas as mágoas latentes. Ao menos agora sem aquela fase em que ficava de camisola o dia inteiro, se achando a mulher mais feia do universo, comprando compulsivamente os filmes do Woody Allen pra sentir que alguém é parceiro da neuroses dela. Sim, ela tá melhor, mas sabe que nela o tempo toma a cor imprecisa de uma lucidez triste.

Não demoraram muito. Subiu. Pôs o filme pra assistir. Chorou, chorou, chorou. Perguntou-se por que a vida não acontece como nos filmes. Ela se pega sempre à espera de um final feliz, que nunca chega. Emociona-se com cenas idiotas. Sente raiva. Lembra de quando ele disse, rindo, que, pra ele, ela não precisava fingir, pois não estavam diante de uma câmera. Ele conhecia cada gesto, cada maneira de olhar e disfarçar. Naquela hora, ela só desejava com todas as forças conseguir tratá-lo como qualquer outra pessoa. Olhá-lo e não querê-lo de volta. Esquecer das tantas afinidades que existiam e que foram tão lindamente sendo descobertas por tanto tempo. Esquecer do grau de entendimento absurdo, até na hora do adeus.

Ela, a própria mocinha da comédia romântica - que canta feito louca enquanto dirige: "mas deve haver amor sem sangrar" - sendo que o tal príncipe pós-moderno de tênis All Star não enxerga o seu tão ofuscante valor, se consola pensando ironicamente no seu roteiro mal escrito: vai ver que o brilho é ofuscante demais mesmo!

Na verdade, ela sente muita vergonha de ainda se perceber tão frágil diante de uma tristeza avassaladora. É um vazio existencial que lembra sua pré-adolescência, quando sentia uma melancolia horrorosa, mas que depois passou e ela se transformou numa mulher com um senso de humor incrível, rá-rá-rá!

Pensa que o pior já passou. E ela já desistiu de tentar entender muita coisa. Devagar, devagarinho as respostas vão aparecendo dos lugares mais improváveis. Resta-lhe a surpresa.
Resta-lhe o incrível, o inesperado. Resta-lhe não restar.Ela chora, cansa e descansa.

E então resolve dormir. Dormir para apagar todas as luzes. As ofuscantes e as incandescentes, as de dentro e as de fora.

Cansaço

Sim, pessoas óbvias me cansam, mas obviedades não. Me impressiono como por vezes são necessárias como uma injeção de lógica na corrente sanguínea.
Sentimentos são ilógicos; ações, não. Nem os animais agem contra o que sentem.
Obviedades arrancam todo dia um pouquinho o anzol de Pandora's box.

sábado, 15 de março de 2008

Não-sistema

Um sistema isola-se do mundo. O sistema, qualquer que ele seja, é uma declaração de guerra ao exterior. Toda a ordem impõe um interior e um exterior. E o exterior é o inimigo.
A desordem não.

Gonçalo Tavares - nas tabelas literárias de "A perna esquerda de Paris".
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E em Belém o sistema não se instalou por completo.

:)

Inter-ações

- Ouvi sotaque óbvio, outro nem tanto;
- Brindei com sorvete;
- Reparei no meio-fio e suas grades;
- Descobri lira de ferro;
- Soube da existência de trailers de filmes inexistentes;
- Vi "Sobre meus lábios" (Sur mes levres, França, 2001) citando a cidade de Grenoble;
- Achei delicioso "Um lugar na platéia - nem muito longe, nem muito perto" (Fauteils d'Orchestre, França, 2006);
- Ganhei "Big Blue"; dei Chico e Arnaldo;
- Aprendi sobre as constelações - quando as nuvens permitirem, verei se as identifico sozinha;
- Ouvi histórias maravilhosas da mitologia;
- Senti cheiro de grama;
- Ouvi que acertei nos lugares, entre os reais e os imaginários;
- Parece que empatei com a natureza ao também agradar com a trilha sonora;
- Ouvi que quanto mais se conhece, mais se gosta daqui;
- Repeti roteiros, não por falta de originalidade, mas por serem muito originais;
- Notei que a maioria das pessoas que conheci nas últimas semanas estiveram em Paris quase na mesma época que eu (o que não quer dizer absolutamente nada, mas enfim);
- Prometi "Mosqueteiro" para a volta;
- Anotei que preciso ver: Cinema Paradiso e Magnólia;
- Fiz pic-nic com pupunhas;
- Dei lugares e ganhei gargalhadas.

Tirei a poeira do meu melhor sorriso. Poeira cósmica.

sexta-feira, 14 de março de 2008

"E agora, o que acontece?"

Será que as pessoas percebem quando dançam ao som das ondas?

quinta-feira, 13 de março de 2008

Por vezes

"Por vezes me dá um enjôo de gente! Depois passa e fico toda curiosa."
(
A via Crucis do Corpo, 1974 - Clarice Lispector)

É por essas e muitas outras que me identifico tanto, tanto com Clarice.

Tente

Brincar com as palavras que saem da boca do outro, como se elas não tivessem nenhum significado. Apreciando somente os sons – os vocálicos e os consonantais (ainda não consegui decidir qual o meu preferido).
Assim, as feias passam desapercebidas e ameniza-se a falta que as mais bonitas fazem.

quarta-feira, 12 de março de 2008

Recall

O fabricante do brinquedo "Lula de Pelúcia" está convocando para troca ou devolução do dinheiro devido a uma série de falhas de fabricação listadas abaixo:

1) Falta um dedo;
2) Tem a fala presa;
3) Só diz "eu não sabia";
4) Não tem cérebro.

Entretanto, ainda tem muito companheiro que adoraria presentear o povo com essa pelúcia meiga ad eternum - versão metalúrgica de Fidel. É por isso que sempre me pergunto o que fazer para viver na Europa - sem precisar vender meu corpitcho, antes que sugiram.

Hum... já sei! Vou preencher uma proposta de cartão corporativo.

terça-feira, 11 de março de 2008

Kindness

: o)

Ganhei "Big Blue" (filme francês) de presente do Francis!

Assim vou começar a acreditar que O SEGREDO é a LEI DA ATRAÇÃO, rs.

Exorcismo

Preciso lembrar rapidamente a essa bruxinha horrorosa que quis se instalar em mim nessa manhã, que eu já:

- Ganhei blog de presente;
- Tive geladeira cheinha das besteirinhas que mais gosto esperando por mim na chegada;
- Brinquei de comprar e esconder as balas preferidas do outro e me diverti com os olhinhos brilhando cada vez que achava uma;
- Fui vendada na frente do computador pra ser a primeira a ver a criatividade posta na net;
- Fui surpreendida com a existência de uma caixa cheinha de coisas com fotos que eu nem sabia que existiam e até fio de cabelo meu, muito antes de eu sonhar em pintá-los de vermelho;
- Recebi doidas declarações de afeto num castelo;
- Escrevi uma das mais inusitadas e que me pegou de surpresa na hora de partir, num pranto que me envergonhava diante dos olhares desconhecidos;
- Ganhei cópia de carteira de motorista como declaração de amor;
- Ganhei assinatura da Capricho do namorado no auge da adolescência;
- Ganhei anúncios exclusivos;
- Me surpreendi com a emoção do outro com uns rabiscos que fiz despretensiosamente;
- Ganhei flores no meio de um dia estressante no trabalho, logo após saber que não tinha conseguido vaga no mestrado;
- Tive tardes sublimes de pôr-do-sol na praia, com a cabeça encostada na perna do outro, das quais consigo me lembrar com uma impressionante riqueza de detalhes;
- Tive o porteiro no interfone dizendo que haviam deixado uma torta de banana do Mac pra mim;
- Dancei com o rosto coladinho
"Let´s stay together" - versão Al Green, no meio da sala;
- Tive a rara companhia pra ajudar a escolher um vestido e tentei decifrar aquela mistura de ternura e volúpia no olhar, rs;
- Tive como tema (inclusive escrita como depoimento no famigerado Orkut): "Too marvelous for words".

Frame?

Preciso saber se tem isso aqui.

A nite in the life

Surrealidades:

Veleiro, Guatemala e perguntas devassando intimidades.

Desafio:

Responder diretamente, de igual pra igual, sem se deixar enrubescer ou pré-julgar.

Descoberta:

Eu nunca soube que o tal "charque" ou "jabá" era de carne de cavalo. Fiquei chocada!

Oh la la

Gosto de conhecer novos mundos.

Cada ser humano é um.

segunda-feira, 10 de março de 2008

Choque

Definitivamente esse mundo não é pra ingênuos.

Altinha

Me peguei querendo abrir a porta de casa com o alarme do carro, rsrs.
Frapês parecem tão inofensivos. Mas a minha distração contribui muito também.
Bendita intolerância a "alcoolices", não consigo passar da segunda taça.
Deus sabe o que faz.

domingo, 9 de março de 2008

Duvidiotas

Vez por outra, me pego perdendo tempo me perguntando bobagens nessa vida de solteira.

A mais recorrente é: como será que vou ser interpretada? O ser humano é malicioso, por natureza. Então, às vezes, o simples ato de deixar uma mensagem offline no msn vira uma decisão onde o conselho dos neurônios precisa se reunir.

Não tem nada a ver com orgulho. Você só não quer alimentar alguns egos que parecem já ter banquete garantido todos os dias pra manter a vaidade saciada.

No final, eu acabo fazendo o que quero mesmo.
Nunca fui boa em me tolhir.

Não sou de convidar, mas de preparar-me e abrir a porta.
Não faço rituais, sento no tapete e abro os braços.
Não ensaio falas, a emoção vem e confesso o afeto.

Além do mais, poucas coisas são tão bacanas como se sentir querido nesse mundo onde todos estão ocupado demais olhando o próprio umbigo.

So, if you´re lonely...

Nas horas em que a solidão quer chegar, lembro:
"A gente nasce e morre só. Pare de querer me assombrar."

Nascer e morrer.

Já nascemos de uma separação. O duro é esperar a hora certa.
Cedo ou tarde ela chega.
Sendo assim, auto-suficiência devia fazer parte da grade escolar.
Uma tentativa de preparação pra hora de pegar o chapéu e dizer adeus.

Nunca estou preparada pra despedidas.
E em pensar que ainda vem muito chumbo grosso pela frente.

sábado, 8 de março de 2008

No tempo da delicadeza

Run Free

- Não se prende o amor com pregos, ao coração. Daí a fragilidade.

(Trechinho minúsculo de "A perna esquerda de Paris", de Gonçalo M. Tavares -> escritor português contemporâneo e ídolo.)

sexta-feira, 7 de março de 2008

Casados entediados x Solteiros solitários

Era mais ou menos sobre o que falava Chris Rock num video do Youtube que meu irmão disse pra eu assistir, a título de "consolo", rs.

Consolo por ter saído de um relacionamento que todo mundo achava que ia dar no altar - afinal, foram 8 anos - mas que, por egoísmo dos planos e diversidade de caminhos, não deu.

Tenho me deparado com formas muito curiosas de perceber a tão aclamada solteirice.
O primeiro estágio pra mim, depois de seguidos namoros longos, foi a concha da completa solidão, a fase do isolamento.
Descobri aí, o desejo que os solteiros mal-resolvidos têm de esganar e banir todos os casais felizes do planeta. A gente olha pro casalzinho e se pergunta se aquilo tudo não é um numerozinho barato, que na verdade eles devem estar se tratando daquele jeito pra compensar algo muito ruim que se fizeram. E a máscara um dia vai cair!

É abominável, eu sei, mas acho que todo mundo passa por isso e sabe do que falo.

Acho até que demorei pra descobrir essa sensação, porque graças à Afrodite, estive longa parte da minha vida do lado de lá.

Depois vem a fase de fingir que já estamos sabendo lidar perfeitamente com a situação, a volta por cima está dada e agora é só a famigerada "curtição".

Bem, não considero que ir seguidas vezes ao cinema sozinha seja a maior curtição, mas a gente tenta. Não dá é pra ficar esperando a disponibilidade de algum dos seus tão-atarefados-e-todos-compromissados-amigos pra assitir àquele filme pelo qual se esperou meses pra ver. Aí vem aquele maldito ar-condicionado congelante lembrar que não tem ninguém do lado pra afundar os ombros e ganhar os abraços que tentam te aquecer.

Então a gente põe 10 pipocas na boca de uma vez só e não esquece NUNCA MAIS aquele casaquinho bááásico - mesmo numa cidade tão quente como essa.

E as boates? Ah, esse é um capítulo à parte. As tuas amigas ficam esperando que beijes desesperadamente o cara que te abordou, só porque ele tem uma beleza um pouco acima da média e por elas saberem que já estás um tempinho sem praticar essa "arte". Eis que a vontade não vem e o que cai sobre tua cabeça é uma chuva de críticas.
E haja paciência.

Melhor nem explicar que não queres alguém cheio de frases clichés, que passam a noite inteira dizendo que está louco pra saber se teu beijo é bom, e que, na verdade, querias construir uma historinha com alguém pra que, nessa hora, sentisse aquele friozinho na barriga (muito mais gostoso e diferente dessas coisas mecânicas), porque já sei que vão dizer que é só pra "ficar", não pra casar, e outras estupidezes assim.

Mas vai que o cara fale "menas" e seja cantor de música sertaneja, né?
É preciso um mínimo de conhecimento pra perceber alguma afinidade, além da atração pelo biotipo. Pra mim, é.

Hum hum... não tenho mais vergonha de assumir meu lado Amélie Pouláin.
Sou romântica sim, e daí? Vai encarar?
=P

Escrevo blog pra ninguém

Desde o início decidi que estavas destinado a ser uma espécie de válvula de escape. Diário nunca; válvula de escape - como o chamado "ladrão" da caixa d'água. Desnecessária a ampla divulgação dos meus transbordamentos.

Queria conseguir exibir meu perfil só aqui, sem precisar compartilhá-lo com o mundo Blogger, até porque apareceria em outros onde costumo comentar e não quero. Afe, odeio essa falta de intimidade, mas tudo bem... i´ll be patient, afinal nenhuma intimidade se constrói da noite pro dia.

:-$

O que me move

É essa vontade de externar idéias, sensações e impressões.

A palavra sempre me fascinou, com sua força pacificamente revolucionária.

Portanto, não reparem nessa história de template - é a primeira vez que tentarei manter um troço desses sozinha - até porque, aqui, o que importa é a palavra despretensiosamente dita/escrita.

Pronto, estreei.

:-]