terça-feira, 8 de abril de 2008

O que se pode prometer e teorias de não-paixão

Pode-se prometer atos, mas não sentimentos, pois estes são involuntários.
Quem promete a alguém amá-lo sempre, ou sempre odiá-lo ou ser-lhe sempre fiel, promete algo que não está em seu poder; mas ele pode prometer aqueles atos que normalmente são consequência do amor, do ódio, da fidelidade, mas também podem nascer de outros motivos: pois caminhos e motivos diversos conduzem a um ato.
A promessa de sempre amar alguém significa, portanto: enquanto eu te amar, demonstrarei com atos o meu amor; se eu não mais te amar, continuarei praticando esses mesmos atos, ainda que por outros motivos: de modo que na cabeça de nossos semelhantes permanece a ilusão de que o amor é imutável e sempre o mesmo. - Portanto, prometemos a continuidade da aparência do amor quando, sem cegar a nós mesmos, juramos a alguém amor eterno.

Esse trecho foi o que me fez comprar Humano, demasiado humano, mesmo sob acusações de que eu não era Nietzsche, e sim Vinicius; não era rock industrial, mas bossa nova. Eu até achei bonitinho, mas ninguém é uma coisa só. Rotular é limitar demais, é pré-conceituar. O bom é transitar pelas mais diversas correntes, explorar vários caminhos e idéias sem perder a essência, mas poder transformá-la/melhorá-la conforme sua dinâmica pessoal de vida. A doçura pode ser transgressora sem deixar de ser doce.

Tenho fascínio pelo poder revolucionário de uma mente aberta pra enxergar a mesma situação por diversos ângulos. E cada vez que se desenvolve isso, mais se distancia das convenções. É um fiozinho de lã que se pode puxar longe, mas não quero me estender.

Lembro agora de uma parte do documentariozinho-febre-mundial que assisti What the Bleep do We Know? (Quem somos nós?), que, apesar das interpretações sofríveis, da picaretagem e das críticas, achei interessante o que alguém disse por lá (em meio a toda aquela pseudo-física-quântica e comentaristas dignos do texto: "Ligue jhá!") sobre a paixão ser um vício em determinada sensação que alguém nos provoca. Você não é apaixonado por aquele ser em especial, mas viciado na sensação que ele te causa. Sim, parece indissociável à primeira vista, mas se tentarmos separar uma coisa da outra, fica até interessante - se estiver apaixonado agora, nem adianta ler, pois isenção e discernimento são coisas que passam bem ao largo da paixão: do grego pathos, passividade do sujeito, experiência infligida, sofrida, dominadora, irracional – por oposição a logos ou phronesis, que significam pensamento lúcido e conduta esclarecida.
Então, em sendo a paixão um estar viciado na sensação que determinada pessoa provoca, conseguiríamos desenvolver técnicas para cortar essa "liga"?
Eu tenho uma, mas que ainda está em fase de testes, rs. Tem vezes que acho que funciona, em outras acabo desistindo de sua aplicação e me entrego àquele sorriso bobo, momentâneo.
É a teoria da banalização.
Como se deduz facilmente, consiste em tentar tornar a criaturinha simplesmente a mais banal das criaturas, como aquelas outras tantas que existem no seu msn (criaturinha extra/ordinária que, por uma racionalidade qualquer, impele o seu não-querer lançar-se nesse precipício deliciosamente infernal).

Uma espécie de vacina contra o encantamento; um berrar pro seu senso crítico não dormir bem na hora errada (na hora da fisgada); um estado de alerta constante da consciência, pra que não se permita alterá-la (sim, porque afinal paixão é um estado alterado de consciência).
Ao menos tenta-se combater uma sensação com outra: a de se estar no controle, o que já é uma mãozinha. Ou não - nos estágios irracionais abissais.

Falando assim, parece até que sou uma daquelas mulheres amargas, atordoada pelas desilusões amorosas da vida, mas pode apostar que não sou. Longe disso (apesar de ter nome de protagonista de novela mexicana: Erica Adriana!). Só acho o tema interessante pra tentar se analisar friamente: como cortar esse barato que pode custar caro? Credo do trocadilho infame, hehehe

Aff, o post já tá imenso e eu nem queria que fosse assim. Sei que vão pensar que eu mal consigo controlar o tamanho de um post, imagina o resto! :P

Quem tiver mais teorias, por favor, não se faça de rogado, nem seja tão egoísta. É feio.
Não custa esclarecer: não que eu esteja precisando, é pura paixão - pelo debate.

2 comentários:

Anônimo disse...

Fala NIELS BOHR:

"Se buscamos um paralelo para a lição da teoria atômica devemos nos voltar para aqueles tipos de problemas com os quais já se defrontaram, no passado, pensadores como Buda e Lao Tsé em sua tentativa de hormonizar nossa posição como expectadores e atores no grande drama da existência"[N Bohr, Atomic Physics and Human Knowledge]

Viu! Dri; foi o k a Rantha disse no filme, lembra? (será ki é plágio?)

Carlos Lins

Dri disse...

Hum... isso que você escreveu me lembrou um trecho do livro que tô lendo:

"No percurso dos séculos ele procurava exactamente o mesmo: perceber como pensa a História para formular uma 'normalidade', e assim a poder controlar."

(Jerusalém - Gonçalo M. Tavares)

E tem teoria pra todos os gostos nesse mundo, né? Acho ótimo. :)