quinta-feira, 3 de abril de 2008

Formigas que lêem Ni

71. A esperança - Pandora trouxe o vaso* que continha os males e o abriu. Era o presente dos deuses aos homens, exteriormente um presente belo e sedutor, denominado "vaso da felicidade". E todos os males, seres vivos alados, escaparam voando: desde então vagueiam e prejudicam os homens dia e noite. Um único mal ainda não saíra do recipiente; então, seguindo a vontade de Zeus, Pandora repôs a tampa, e ele permaneceu dentro. O homem tem agora para sempre o vaso da felicidade, e pensa maravilhas do tesouro que nele possui; este se acha à sua disposição: ele o abre quando quer, pois não sabe que Pandora lhe trouxe o recipiente dos males, e para ele o mal que restou é o maior dos bens - é a esperança. - Zeus quis que os homens, por mais torturados que fossem pelos outros males, não rejeitassem a vida, mas continuassem a se deixar torturar. Para isso lhes deu a esperança: ela é na verdade o pior dos males, pois prolonga o suplício dos homens.

(Friedrich Nietzsche, em "Humano, demasiado humano", um dos meus livros permanentes de cabeceira - direto da prateleira choque de realidade.)

Concordo com cada vírgula e talvez por isso tenha gostado tanto de One is the loneliest number, cantado por Aimee Mann, e escute sem cansar. A esperança f*de completamente com a vida do ser humano.
Só mesmo em alemão que a partícula wohl - que equivale a talvez e, naturalmente, denota incerteza ou possibilidade - pode ÀS VEZES, realçar uma afirmação.
Tá vendo? Complicado igual, não tem jeito.
Um ordinário esse Zeus! Odeio.
Pandora era só uma cabeça-oca.

*O termo grego em original é pithos, que corresponde a "vaso, recipiente, jarro."
(Cultura inútil? Oh, yeah!)

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