terça-feira, 8 de julho de 2008

Farmácia e cinema

Saiu do trabalho. Dava tempo de chegar ao cinema antes que a chuva caísse.
Precisava aproveitar o privilégio de trabalhar perto de um, afinal talvez isso mude daqui a um mês.
Escolheu o lugar de costume: nem muito perto, nem muito longe, uma poltrona quase na ponta. Quando as luzes se apagaram e não conseguia se concentrar, achou que o problema era com ela, com aquela vida ordinariamente instável, sem porto pra atracar quando o coração se apequena no canto mais sombrio do peito e a dispersão impera!
Dispersão! Lembrou que aprendeu o significado dessa palavra muito cedo, desde a infância, quando começou a frequentar a escola. A frase das professoras à sua mãe, ano após ano, era sempre a mesma: "é uma menina inteligente, mas muito dispersa! É a última a acabar as tarefas porque pára e fica olhando pela janela".
Sorriu ao lembrar disso. Tentou voltar pro filme. Bem, já que no cinema não tinha janela pra olhar, levantou e foi à farmácia. Sentiu medo das ruas escuras e raiva da poça d'água que molhou seus pés. Voltou. Sentou na mesma poltrona. Constatou que dessa vez, a culpa não era da sua dispersão, mas do formato de documentário-vhs-caseiro-sem-história. Além do mais, nem fã de Eric Rhomer ela era.

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